"O Modelo dos modelos"
O texto de Italo Calvino me remete a
dois outros importantes textos. O primeiro é de um grande filósofo de nome Canguilhem.
Ele tentou definir o conceito de normal, patológico, doença e anomalia e tenho,
pra mim, que ele foi muito feliz com suas descrições. Normal vem do grego normalis e indica aquilo que segue uma regra, logo se baseia em
conceitos estatísticos. O normal seria algo que se estabelece como uma característica
presente na maioria da população. Canguilhem critica essa definição e diz que o
normal deve ser pensando como corpo subjetivo. O indivíduo deve ser tomado como
um todo e em um modelo temporal e só ser considerado portador de patologia
quando há: alguma restrição o impeça de realizar alguma atividade que ele
realizava antes, dor, sofrimento, sentimento de vida contraria, o individuo se
encontro no polo de doença. E a normatividade seria a capacidade de o individuo
retomar ao padrão de normalidade. A anomalia sim tem relação ao desvio estatístico
segundo os pensamentos do filosofo e nem toda anomalia é sinônimo de doença. A
mesma só será considerada doença quando o individuo não conseguir ser normativo
em relação a tal anomalia. O paralelo feito entre este autor e aquele se dá na
infeliz ideia inicial do senhor Palomar citado no texto de Calvino em tentar
encontrar para o ser humano um padrão perfeito e na felicidade em perceber que
os padrões precisam ser mutáveis. “...construir um modelo
na mente, o mais perfeito, lógico, geométrico possível;” “...só restava a Palomar apagar da mente os
modelos e os modelos de modelos” “...se depara face a face com a realidade mal padronizável
e não homogeneizável,”.
O
segundo autor que me vem à mente é o escritor francês Antoine de Saint-Exupery
e um dos seus contos no livro: O pequeno príncipe. O conto que se faz paralelo
com esse texto é quando o pequeno príncipe se depara com o rei de um dos mundos
que ele encontra durante a sua viagem. Este rei queria sempre mandar e dava
ordens a tudo e a todos, estipulando assim um modelo a ser seguido. No encontro
dos dois o protagonista do livro infantil boceja e o rei diz que o mesmo não
pode realizar tal ato pois não foi ordenado a tal. Ele responde dizendo que
não possui controle sobre isto e o rei,
percebendo que não poderia estipular um padrão e para não perder a autoridade, ordena
que boceje sempre que houver vontade. Percebemos com essa comparação que não há
ordens ditadas que possam servir para todos logo não há modelo padronizado para
nós.
Depois
da leitura dos três textos percebemos que não existem padrões exatos a serem
seguidos! Devemos olhar cada um de uma maneira individual e como um todo de uma
maneira cronológica. Como professora de AEE percebo que nem todos os alunos
possuem um mesmo padrão e que nós não podemos esperar achar um padrão neles.
Devemos sempre olha-los de modo individual e tentar encontrar as
especificidades em cada um deles e auxilia-los da melhor maneira possível.
Referências:
CANGUILHEM, G. O normal e o patológico. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2002.
Saint-Exuperry, Antoine. O pequeno príncipe. 1943
Saint-Exuperry, Antoine. O pequeno príncipe. 1943
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